Empreendedorismo – Uma chave para o desenvolvimento econômico
No dia 19 de novembro é celebrado o empreendedorismo feminino e nesse post eu quero falar sobre esse tema tão importante para o crescimento da nossa economia.
Pequenos negócios empresariais
No Brasil existem 6,4 milhões de estabelecimentos. Desse total, 99% são micro e pequenas empresas (MPE). As MPEs respondem por 52% dos empregos com carteira assinada no setor privado (16,1 milhões).
O aumento do desemprego vem acompanhado de um crescimento expressivo do número de microempreendedores individuais (MEI’s) no país, tendo passado de 3,7 milhões em março de 2013 para 8,1 milhões em março de 2019.
Segundo pesquisa do Sebrae feita em 2016, em relação à sobrevivência das Empresas no Brasil, 40 a 60% das empresas fecham antes de completar 2 anos, sendo que a falta de planejamento é uma das principais causas para que isso aconteça. Apenas 42% delas conseguem sobreviver aos cinco primeiros anos de atividade e 46% dos empreendedores paulistanos abriram suas empresas com olhos vendados, sem conhecer o perfil e o hábito dos seus clientes.
As principais dificuldades apontadas pelas empresas no seu primeiro ano de atividade estão relacionadas aos clientes, falta de capital e falta de conhecimento em gestão, administração e organização.
Mulheres Empreendedoras e empresárias
Na última pesquisa realizada pelo Instituto Rede Mulher Empreendedora (RME) – Empreendedoras e seus negócios 2020: recorte dos impactos da pandemia – feita com 1.555 empreendedores e realizada em setembro e outubro de 2020, a gestão do tempo piorou durante a pandemia, principalmente para as mulheres: 20% das mulheres afirmaram ter aumentado a dificuldade em organizar o tempo e realizar as tarefas contra 11% dos homens; 17% das mulheres afirmaram ter aumentado a dificuldade em conciliar trabalho e família, contra 8% dos homens.
As mulheres também se avaliaram como mais resilientes e capazes de se adaptar a mudanças (68%) e afirmaram se considerar pessoas fortes (65%).
Além do sonho de empreender, elas também são motivadas pelo equilíbrio entre trabalho e família e pela flexibilidade de horários.
Suas maiores dificuldades são a gestão financeira, divulgação e venda dos seus produtos e serviços.
Um ponto que costumo observar no meu trabalho com mulheres empreendedoras é o alto nível de cobrança que elas fazem em relação a si mesmas, cuidados com a família e o seu trabalho. Segundo a pesquisa da RME, na auto avaliação que os empreendedores fazem sobre a capacidade de planejamento estratégico, 53% dos homens se deram uma nota igual ou acima de 8, o mesmo ocorrendo com apenas 37% das mulheres.
Nicholas Carr, em seu livro “A Grande Mudança”, explica de uma forma interessante como a mulher absorveu uma carga de trabalho muito grande com o surgimento da indústria elétrica e o lançamento de produtos domésticos que prometiam revolucionar a sua vida. Na verdade, o que aconteceu foi que, “junto com a tecnologia que trouxe a promessa de economia de tempo, veio a pressão por fazer mais e melhor, conhecer todos os aparatos e estar atualizada tecnologicamente.”
O fato é que as mulheres acabaram tendo uma sobrecarga de trabalho adicional. Mesmo com os aparelhos eletrônicos maravilhosos como o ferro de passar roupa e enceradeira, dois anos depois as mulheres continuavam gastando praticamente o mesmo tempo – entre 20 e 26 horas – com as atividades domésticas. Elas ainda perderam a ajuda dos maridos e alguns empregados, uma vez que os aparelhos iam fazer com que a “rainha do lar” fosse mais produtiva e não precisasse mais de tanta ajuda.
A carga de trabalho doméstica das mulheres continua alta, representando uma parcela significativa do seu tempo.
Para citar um exemplo, um estudo feito em 2014 por uma economista do IBGE, Cristiane Soares, sobre como o casamento sobrecarrega a mulher, mostrou que as mulheres gastam em média 26 horas semanais do seu tempo com as atividades domésticas. Que o casamento livrava o homem de mais de nove horas de trabalho: a jornada caía para 10 horas e 42 minutos. A mulher, na mesma composição familiar, dedicava 25 horas e 36 minutos quando não tinha companheiro. Ao se casar, o tempo dispendido subia para 26 horas e 6 minutos, jornada meia hora maior ao dividir a vida com um homem. Segundo a economista, “Quando não é casado, o homem costuma terceirizar o serviço doméstico. Quando casa, transfere para a mulher.”
Sem entrar no mérito cultural da questão, o que quero ressaltar é simplesmente que, se formos fazer uma conta básica: 8 horas de sono + 8 horas de trabalho + 2 horas de trânsito + 2 horas para refeições + 1 hora para cuidados pessoais + 2 horas para cuidar da casa = 23 horas. Praticamente não sobra tempo nenhum para cuidar dos filhos e de si mesma.
Além da carga de trabalho, a responsabilidade das mulheres também é alta. Uma pesquisa feita em 2016 pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) apontou que as mulheres continuavam se considerando as principais responsáveis pelas tarefas domésticas e criação dos filhos. O levantamento ouviu 810 mulheres com idade igual ou superior a 18 anos, de todas as classes sociais em todas as capitais e no interior do Brasil e de diversas ocupações (autônomas, funcionárias de empresas privadas e públicas, donas de casa e outras). Segundo elas, a maior parte das tarefas de casa ficam sob a responsabilidade das mulheres.
Segundo a pesquisa, 70,8% das mulheres dizem ser as principais encarregadas pela arrumação na casa em que moram. Entre as mulheres casadas, esse percentual avança para 80,8%.
Dentre as tarefas domésticas listadas na pesquisa, apenas uma foi apontada majoritariamente como responsabilidade dos homens, com apenas 22,6% das mulheres se dizendo encarregadas do serviço: pequenos consertos e reparos, como troca de lâmpadas e desentupimento de pias.
Interessante observar o fato que 25,4% das mulheres casadas que se sentiam sobrecarregadas com as responsabilidades da casa conversaram com o marido sobre o assunto, mas, mesmo ele tendo concordado, nada mudou. Outras 22,3% disseram que não conversaram com o marido sobre o assunto porque concordavam que atividades domésticas eram responsabilidade da mulher. Outras 17,6% dizem que nunca tocaram no assunto porque queriam evitar brigas conjugais.
Essa sobrecarga de trabalho feminina tem origem cultural muito forte. Outra pesquisa, de 2015, “O que é ser menina no Brasil? – Desigualdade de gênero desde a infância”, mostra que a jornada dupla feminina começa na infância, com as meninas assumindo mais atividades de casa do que os meninos.
Talvez isso possa ser um dos motivos que levam as meninas a tirarem menores notas no Enem, considerando que precisam dividir o seu tempo de estudo com os afazeres domésticos e cuidados com seus irmãos mais novos para que as suas mães possam trabalhar.
“Desaprender para aprender. Deletar para escrever em cima. Houve um tempo em que eu pensava que, para isso, seria preciso nascer de novo, mas hoje sei que dá pra renascer várias vezes nesta mesma vida. Basta desaprender o receio de mudar.” Martha Medeiros – Crônica Aprendendo a desaprender, 2001
O que é empreender?
Independente de você ter uma empresa ou trabalhar como autônomo, empreender envolve tentar equilibrar todas as áreas da sua vida pessoal e profissional.
Na era digital é preciso entender de tudo um pouco: tecnologia, marketing, vendas, relacionamentos com clientes e parceiros de negócios, financeiro, jurídico, planejamento e gestão.
Tem que ficar atento aos movimentos da economia e política, estar constantemente atualizado, sempre buscando formas inovadoras para se diferenciar no mercado.
Estar presente nas redes sociais é fundamental: instagram, facebook, youTube, linkedIn, WhatsApp, blogs, citando somente alguns deles.
Precisa sobrar tempo para providenciar uma boa alimentação, praticar atividades físicas, cuidar da saúde, ter momentos de lazer e descanso e para cuidar de si mesmo.
Além da carga de trabalho adicional com as atividades domésticas e cuidado com os filhos, o “pacote empreendedor” inclui conectar as habilidades técnicas com a vida pessoal, e ainda saber lidar com todos os sentimentos envolvidos no processo. É como se fosse uma aventura na montanha russa.
Como encontrar tempo e energia para tudo isso?
Estudando. Aprendendo. Um pouco a cada dia.
Trabalhar de forma colaborativa e ter o apoio e parceria de outras pessoas, incluindo as mulheres empreendedoras e guerreiras, contribui para que essa aventura seja feita com mais carinho e leveza, aumentando as chances de ter melhores resultados.
Se você é um companheiro, parceiro, chefe ou amigo, saiba que apoiar as mulheres em seus empreendimentos, nas atividades domésticas e cuidados com os filhos é fundamental para que todos possamos reestruturar a economia do nosso país e acelerar o desenvolvimento em um momento tão delicado e crítico causado pela pandemia mundial da COVID 19. Faça a sua parte.
Porque juntos nós conseguimos chegar muito mais longe!
“Quando se sonha sozinho é apenas um sonho. Quando se sonha juntos é o começo da realidade.” Miguel de Cervantes
Referências:
- Portal Sebrae
- Microeendedores formais
- Pesquisa SPC Brasil e CNDL 2016 – Divisão de tarefas domésticas
- Estudo O casamento sobrecarrega a mulher
- Pesquisa O que é ser menina no Brasil
- Pesquisa Rede Mulher Empreendedora (RME) – Empreendedoras e seus negócios 2020: recorte dos impactos da pandemia
- Porque as mulheres tiram notas mais baixas no ENEM
Imagem de S. Hermann & F. Richter por Pixabay